quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Orquestra Excêntrica Os Benficófilos

Orquestra Excêntrica Os Benficófilos - Portugal
"Os pioneiros da harmónica em Portugal - Anos 1930's-1940's"


Esta é que provavelmente poucos sabiam. No final dos anos '30, primórdios dos anos  '40, existia em Portugal uma orquestra de harmónicas (mas não só) de que faziam parte entre outras, figuras como o actor Óscar de Lemos (como cantor), o actor e realizador Jorge Brum do Canto, o popular Menan dos Manos Alexandres, como assobiador - não se riam, é mesmo verdade e este nosso amigo parecia um rouxinol - que tinha o apoio do Radio Clube Português (CT1 GL) e se chamava Orquestra Aldrabófona sendo dirigida pelo Maestro Aldrabowsky ( que eu creio era o Jorge Brum do Canto, mas não tenho a certeza ). Porque se tratava de uma orquestra cómica, grande parte dos seus componentes limitava-se a participar dos "gags" e não a tocar o que quer que fosse, daí o nome de aldrabófona. Mas não é desta orquestra, que eu hoje vos vou falar. É que surge então uma outra orquestra pretendendo rivalizar com a Aldrabófona. Essa orquestra que tomou o nome de Orquestra Excêntrica Os Benficófilos, era composta por sócios e atletas do Sport Lisboa e Benfica (conforme se pode ler na foto mais abaixo) e "dirigida" por um dos maiores nomes do atletismo do Benfica e de Portugal - Matos Fernandes. Faziam parte entre outros Júlio Gomes (que veio a tornar-se famoso, como acompanhante à viola dos maiores fadistas da cena nacional), Bártolo Valença, que mais tarde se tornou imensamente popular com os seus "Rapazes do Ritmo", e entre muitos outros, um amigo que infelizmente já não está entre nós, que tinha uma verdadeira paixão pela "gaita", (nome porque é designada popularmente a harmónica). Esse amigo que eu recordo com saudade, era o amigo Carlos Guedes dos Manos Salgueirais, que quis por força, que eu ficasse depositário destas fotos que vos trago hoje aqui. Fica aqui a homenagem, a esses pioneiros da harmónica em Portugal e em especial a este meu bom amigo.


3 comentários:

  1. Caro Francisco
    Matos Maia, grande homem da Rádio e nosso saudoso amigo, no seu livro "TELEFONIA", dedicou todo um extenso capítulo à Orquestra Aldrabófona, do qual respigo alguns excertos :
    "Tudo começou durante uma ceia de caracóis e vinho de carvoeiro, numa tasca na Travessa da Palha, hoje Rua dos Correeiros. Três amigos amantes das noites lisboetas, depois da ceia feita, puxaram pelas gaitas-de-beiços e deram um concerto de improviso, de que resultou grande ajuntamento de noctívagos que aplaudiram com entusiasmo.
    Surgiu, depois, a ideia de constituir uma orquestra de características singulares, e aos poucos, num passa palavra, foram aparecendo guitarras, violas, acordeões, cântaros de abano, pífaros de pistão, pianos, etc.etc.
    (...)José Duarte de Figueiredo, recém formado em direito, e na altura, secretário do ministro da Instrução, Carneiro Pacheco (e mais tarde, director do Teatro de S. Carlos ) tinha sido regente da Orquestra Pitagórica de Coimbra, e passou a reger a Orquestra Aldrabófona, como maestro Aldrabowsky.
    (...)Em 1936, ano do seu nasciimento, a Orq. actuou na Emissora Nacional, apresentada por Fernando Pessa.(...)
    O Presidente do já prestigioso Rádio Clube
    Português, Jorge Botelho Moniz, era amigo de vários elementos da Orq. e naturalmente, surgiu o convite, e a Aldrabófona passou a fazer emissões regulares de hora e meia, ás sextas feiras à noite.
    O resultado foi espantoso e, naturalmente, hoje um pouco custoso de acreditar, embora se deva atentar à época: toda a gente ficava em casa a ouvir a emissão, e as ruas quase ficavam sem trânsito.
    (...)A indumentária era "sui generis":- bata de merceeiro cinzenta, lenço encarnado ao pescoço, e chapéu de palha, igual aos que os miúdos usavam na praia ."

    Matos Maia descreve o "grande entusiasmo que todo o País tinha por este original agrupamento ( e único até hoje)" e refere os muitos locais de norte a sul, onde a Orq. actuou, desde o Eden Teatro, o Europa Cinema, Trindade, Ginásio, Politeama (Lisboa).Teatro Rivoli, Palácio de Cristal e Coliseu do Porto. E em muitas verbenas, clubes, retiros fadistas, etc. por todo o País.

    Para abreviar, cito alguns dos cerca de quarenta e cinco elementos da Orq., entre advogados, comerciantes, médicos, empregados de escritório,bancários, autores, actores e encenadores teatrais, poetas, jornalistas, arquitectos, artistas plásticos, realizadores de cinema, professores liceais, compositores,etc.:
    Alexandre Afonso ,comerciante, e Fernando Santos,funcionário dos Telefones,(assobiador e depois "1.º gaita") que formaram um famoso duo,depois nossos grandes amigos, os MANOS ALEXANDRES.Carlos Vilarett, pianista,(irmão de João Vilarett).Guy de Valle-Flor, administrador de empresas e músico.Humberto Melo Pereira, compositor, pianista e depois, produtor da RTP.Jorge Pereira Alves, locutor do RCP e En, e apresentador da RTP("Melodias de Sempre" etc.). Jorge Brun do Canto, escritor, poeta, realizador e actor de cinema (realizou o filme "Hora H",sobre a Aldrabófona, e substituiu o Maestro Aldrabowsky, que saíu, por causa das suas funções oficiais. José Pais da Silva, empregado de escritório e violista de Fado. Luís Horta de Mendonça, actor e artista plástico. Miguel Simões, compositor e locutor. Óscar de Lemos, actor de cinema. Pedro Moutinho, locutor da EN e da RTP.Ruy Eduardo de Azinhais Ferrão, actor, encenador e realizador de cinema e da RTP.António Fernandes dos Santos (Tossan), caricaturista, cenógrafo, escritor, poeta e pintor. E o já referido Maestro Aldrabowsky, José duarte de Figueiredo.
    A existência da Orquestra Aldrabófona mediou entre 1936 e 1948.

    ResponderEliminar
  2. Em tempo :
    Evoco também com saudade, o nosso comum amigo CARLOS GUEDES (Manos Salgueirais) amigo e colega de meu Pai,como sabes,que nos idos de 1950, muito antes da nossa "grande aventura" do Quarteto Português de Harmónicas e do Trio Harmonia, me levou a integrar uma Orquestra de Harmónicas, não já "Os Benficófilos", mas também dirigida por Matos Fernandes, e que ensaiava no Quartel dos Bombeiros Voluntários de Paço de Arcos.
    Belos tempos!

    ResponderEliminar
  3. Muito obrigado Zé Peralta, pela contribuíção para estes apontamentos, sobre a história da harmónica em Portugal. Desta forma e doutras, iremos homenageando o instrumento que tanto amamos, e passando o nosso testemunho a outros.

    ResponderEliminar