Papo de Gaita - Zona Harmônica (15)
Blues bipolar
Não tocávamos juntos desde 2017, seguíamos nossos caminhos vitais próprios, quando um convite nos foi feito para tocar no Festival de Blues de Cachoeira, que deveria ocorrer presencialmente em agosto de 2020. No carnaval desse mesmo ano busquei refúgio, paz e tranquilidade na cidade de Santo Antônio de Jesus. Lá compus a base do baixo do Blues Bipolar, enquanto em Wuhan, o vírus dizia que vinha. Passado o carnaval, apresentei a ideia aos parceiros do Zona Harmônica e juntos lapidamos a música, pretendendo apresentá-la em Cachoeira, quando quis o acaso mais uma vez que seguíssemos distantes. A pandemia irrompeu como que rompendo a Barragem de Pedra do Cavalo, afogando a todos na sua enchente, espalhando depressão e morte em seu trajeto rumo à Baía de Todos os Santos, ao mesmo em que se alastrava por todos os continentes do planeta Oceano. Diante de tão vasto pandemônio, alguns demoníacos Supermaníacos riem, se embebedam e festejam alucinadamente a alegria de viver, como se nada acontecesse. Baco proteja os Homens de Marte! Na encruzilhada do Mundo, Exú confunde o psiquiatra que inadvertidamente prescreve antidepressivo aos maníacos, carbonato de lítio aos deprimidos e cloroquina aos covídicos. Alguns cheiram cocaína, outros lança-perfume, e há ainda os que esperam na fila da UTI para cheirar oxigênio. Para que livros? Armas, armas a mãos cheias, não diriam os poetas da praça vazia. Momo reina, vida longa ao rei! Mas, o rei está nú...Não lhe levem a mal, tudo é carnaval. Um ano se passou, já é 2021, estou em um manicômio chamado Brasil. Oh! Pátria amada, idolatrada, salvem-se, salvem-se!
Águas que fecham o verão de 2021
Ramon S. El-Bachá
Salto quântico
Do mais alto pico do Himalaia saltei com Wingsuit e do topo do mundo rumo ao nível do mar, vi a imensa pequenez do grande e a minúscula imensidão do pequeno, enquanto vagava entre desfiladeiros cobertos da branca neve, como se estivesse transitando entre as galáxias e os átomos que as compõem. Tenho a certeza que nos elétrons que giram em torno dos carbonos do meu braço, minúsculas vidas subatômicas se banham à luz do núcleo carbônico à beira mar, enquanto outras também saltam da mais alta cordilheira como faço agora, mas cada qual no seu relativo tempo, assim como estou no elétron de um átomo que compõe o ar, penetrando pelo nariz de um ser gigantesco que salta com Wingsuit do topo da maior cordilheira de seu mundo, enquanto imagina que estou em um elétron de seu braço. O Big Bang talvez não tenha sido nada além do que o ar sendo expandido ao sair de bronquíolos em direção aos sacos alveolares de um gigante adormecido, que não é deus. Talvez não tenha havido um princípio e nunca haja um fim, pode ser que o todo sempre tenha existido e para sempre existirá, em constante transformação. Enquanto mal acabo de concluir meu pensamento, quantos trilhões de anos se passaram nos elétrons que me compõem, considerando como ano elétron o tempo que este leva para circundar o núcleo atômico? No gigantesco mundo que é formado por nossas galáxias, em uma atomilionésima parte de seu segundo, exatrilhões de anos Terra se passaram ao mesmo tempo em que já teremos todos morridos. As dimensões ultra exauniversais intergalácticas e infra atouniversais subatômicas se propagam em escala fractal infinitamente, como se fôssemos uma мaтриоска russa infinita, mas há quem pense que tudo seja apenas um ponto. Um ponto de vista!
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