sábado, 6 de março de 2021

Papo de Gaita - Zona Harmônica

  Papo de Gaita - Zona Harmônica (15)


Querido Gildo,

Como estão os demais companheiros do Harmonia? Espero que todos estejam com saúde.
Estamos todos profundamente agradecidos pela divulgação que fez de nosso trabalho e de nossas composições.
Envio de presente algumas histórias não contadas e praticamente inéditas do Zona Harmônica. Sinta-se à vontade para usar o material que segue ao seu bel prazer.
Enviei-lhe, certa feita, uma versão ainda tosca de "Chega de Saudade". Envio-lhe hoje uma versão um pouco mais trabalhada e ainda inédita.
As próximas quatro músicas são composições nossas. Acompanha um texto para ser lido enquanto se escuta cada uma dessas.
Na minha página no SoundCloud tem duas versões de Angola, em uma delas, há um rascunho da gaita baixo. Em outra, um rascunho da execução pelo trio, sem percussão. Envio-lhe uma gravação de ensaio, com Fábio Rigueira na percussão. Fábio é uma pessoa fabulosa, símbolo de superação. Como tem apenas uma perna, adaptou sua bateria para poder fazer o bumbo com a mão e toca de maneira peculiar. Diga-se de passagem que é um excelente ciclista, já tendo feito o trajeto Salvador/Aracaju em sua bicicleta. 
Promenade sur le pont ainda é inédita na rede e apresentamos em público pouquíssimas vezes. Dessa feita, temos Diogo Barreiros na bateria. Diogo nos estimulou a compor algo em compasso 5/4 e daí nasceu Salto Quântico, nossa última composição em 2017, antes de seguirmos cada um o seu caminho...Nunca a exibimos em púbico. Postei a melhor versão de ensaio que tinha no SoundCloud: https://soundcloud.com/ramon-el-bach/salto-quantico 
Por fim, estávamos nos preparando para voltarmos a nos apresentar no que seria o Festival de Blues de Cachoeira, no ano passado, quando fomos tragados pela pandemia que voltou a nos distanciar. Um pouco da história de como nasceu a música Blues Bipolar e fantasias após sua criação estão no texto em anexo. Essa também ainda não foi tocada em público, a bateria é sintética, tocada pelo pedal de Breno Pádua, postei no SoundCloud o último ensaio: https://soundcloud.com/ramon-el-bach/blues-bipolar
Um forte abraço,
Ramon





                         






Blues bipolar

Não tocávamos juntos desde 2017, seguíamos nossos caminhos vitais próprios, quando um convite nos foi feito para tocar no Festival de Blues de Cachoeira, que deveria ocorrer presencialmente em agosto de 2020. No carnaval desse mesmo ano busquei refúgio, paz e tranquilidade na cidade de Santo Antônio de Jesus. Lá compus a base do baixo do Blues Bipolar, enquanto em Wuhan, o vírus dizia que vinha. Passado o carnaval, apresentei a ideia aos parceiros do Zona Harmônica e juntos lapidamos a música, pretendendo apresentá-la em Cachoeira, quando quis o acaso mais uma vez que seguíssemos distantes. A pandemia irrompeu como que rompendo a Barragem de Pedra do Cavalo, afogando a todos na sua enchente, espalhando depressão e morte em seu trajeto rumo à Baía de Todos os Santos, ao mesmo em que se alastrava por todos os continentes do planeta Oceano. Diante de tão vasto pandemônio, alguns demoníacos Supermaníacos riem, se embebedam e festejam alucinadamente a alegria de viver, como se nada acontecesse. Baco proteja os Homens de Marte! Na encruzilhada do Mundo, Exú confunde o psiquiatra que inadvertidamente prescreve antidepressivo aos maníacos, carbonato de lítio aos deprimidos e cloroquina aos covídicos. Alguns cheiram cocaína, outros lança-perfume, e há ainda os que esperam na fila da UTI para cheirar oxigênio. Para que livros? Armas, armas a mãos cheias, não diriam os poetas da praça vazia. Momo reina, vida longa ao rei! Mas, o rei está nú...Não lhe levem a mal, tudo é carnaval. Um ano se passou, já é 2021, estou em um manicômio chamado Brasil. Oh! Pátria amada, idolatrada, salvem-se, salvem-se!

                                                                                                              Águas que fecham o verão de 2021

                                                                                                                            Ramon S. El-Bachá








Salto quântico

Do mais alto pico do Himalaia saltei com Wingsuit e do topo do mundo rumo ao nível do mar, vi a imensa pequenez do grande e a minúscula imensidão do pequeno, enquanto vagava entre desfiladeiros cobertos da branca neve, como se estivesse transitando entre as galáxias e os átomos que as compõem. Tenho a certeza que nos elétrons que giram em torno dos carbonos do meu braço, minúsculas vidas subatômicas se banham à luz do núcleo carbônico à beira mar, enquanto outras também saltam da mais alta cordilheira como faço agora, mas cada qual no seu relativo tempo, assim como estou no elétron de um átomo que compõe o ar, penetrando pelo nariz de um ser gigantesco que salta com Wingsuit do topo da maior cordilheira de seu mundo, enquanto imagina que estou em um elétron de seu braço. O Big Bang talvez não tenha sido nada além do que o ar sendo expandido ao sair de bronquíolos em direção aos sacos alveolares de um gigante adormecido, que não é deus. Talvez não tenha havido um princípio e nunca haja um fim, pode ser que o todo sempre tenha existido e para sempre existirá, em constante transformação. Enquanto mal acabo de concluir meu pensamento, quantos trilhões de anos se passaram nos elétrons que me compõem, considerando como ano elétron o tempo que este leva para circundar o núcleo atômico? No gigantesco mundo que é formado por nossas galáxias, em uma atomilionésima parte de seu segundo, exatrilhões de anos Terra se passaram ao mesmo tempo em que já teremos todos morridos. As dimensões ultra exauniversais intergalácticas e infra atouniversais subatômicas se propagam em escala fractal infinitamente, como se fôssemos uma мaтриоска russa infinita, mas há quem pense que tudo seja apenas um ponto. Um ponto de vista!


Sem comentários:

Enviar um comentário