quarta-feira, 21 de julho de 2021

José Tavares da Silva - Tavares da Gaita

 Tavares da Gaita - Brasil (2)

Filho adotivo de Caruaru, Tavares da Gaita levou nome da cidade para o mundo ao tocar 'gaita invertida' e fabricar instrumentos. Autodidata, aos 15 anos o multi-instrumentista tocava triângulo, surdo, pandeiro e maracás. Jornalista define Tavares da Gaita como 'um gênio da simplicidade, da harmonia e da música'. Por Davi Vasconcelos* e Laís Milena*, G1 Caruaru

Multi-instrumentista, Tavares da Gaita desenvolveu maneira de tocar a gaita invertida — Foto: Biblioteca de Lídio Cavalcanti/Arquivo

"Era um gênio da simplicidade, da harmonia e da música. Sua melodia e sua criatividade cultural reluz arte, encanto e amor". É assim que o jornalista Hérlon Cavalcanti descreve José Tavares da Silva, que ficou conhecido como Tavares da Gaita ao se mudar para Caruaru, no Agreste de Pernambuco. O músico passou a ser reconhecido pelo apelido artístico na década de 70, quando desenvolveu uma maneira de tocar a gaita invertida, com o som semelhante ao de um acordeon. Nascido no ano de 1925, em Taquaritinga do Norte, Tavares se mudou com a família para Toritama quando completou dois anos. Ainda criança já tinha interesse pela música, mas foi na adolescência que despertou de vez a paixão pelos instrumentos. Autodidata, aos 15 anos ele tocava triângulo, surdo, pandeiro e maracás. Não demorou muito e tão logo começou a produzir os próprios instrumentos. "Em 1957 Tavares veio para Caruaru em busca de melhores oportunidades. Aqui trabalhou no Sinuca Caruaru, e sempre levava no bolso uma gaita, para matar o tempo. Como lazer, resolveu começar a fazer instrumentos a partir de madeira, bambu e quengas de coco", explica o historiador e professor José Urbano.



Reco-reco feito por Tavares da Gaita — Foto: Hérlon Cavalcanti/Arquivo pessoal

O historiador conheceu o músico pessoalmente e conta como ele se sentia no palco: "Lembro dele muito tímido, discreto, de poucas palavras na convivência, mas viajava nas nuvens quando se via no palco. Ele logo se enturmou com o Maestro Camarão e por 11 anos fez parte de um grupo musical, tocando gaita, pandeiro e triângulo". O presidente do Instituto Histórico de Caruaru, Josué Euzébio, também falou sobre a vida de Tavares. O historiador levantou questões como o reconhecimento do artista por parte da população caruaruense. Para ele, esse reconhecimento é quase inexistente o e para alguns ele pode ser apenas um desconhecido. Na década de 70, o multi-instrumentista foi convidado para acompanhar um grupo de teatro de Caruaru no projeto Mabembe do Governo Federal. Segundo Josué, "a partir daquele momento Tavares conseguiu ganhar repercussão nacional". Com isso, foram duas décadas de muitas atividades musicais, porém sem êxito no âmbito financeiro.


Tavares da Gaita ao lado de Elba Ramalho — Foto: Biblioteca de Lídio Cavalcanti/Arquivo

Josué também contou que Tavares fez excursões pelos Estados Unidos e pela Europa, onde foi bem aceito pelos artistas e pelo público em geral. O mundo era encantado com o jeito dele de executar as músicas na gaita e nos instrumentos artesanais. Artistas como o pianista Ailton Moreira Lima e a cantora Flora Purin vieram para o Brasil só para gravar músicas de Tavares - as gravações foram feitas na casa dele. O músico, percussionista e vencedor de oito prêmios Grammy, o pernambucano Naná Vasconcelos, também se hospedou na casa de Tavares e tocou os instrumentos feitos por ele. "Se tivesse nascido nos EUA, ou quem sabe no Sul-Maravilha, o gaitista José Tavares certamente estaria eternizado como um dos monstros sagrados do jazz", Naná Vasconcelos, em entrevista no anos 90. "Tavares morreu e esta cidade não divulga a produção musical dele. Não se tem notícias sobres os CDs que poderiam ter sido produzidos. O que se sabe é que este artista morreu pobre e ‘quase’ esquecido", finalizou Josué Euzébio.

Reconhecimento

"Em 1982, [Tavares] no projeto Mambembe, despertou o interesse de fabricar seus próprios instrumentos. Como artista profissional, viajou para os Estados Unidos onde gravou um CD ao lado de Naná Vasconcelos, tocando gaita, percussão com ganzá, reco-reco, triângulo e outros instrumentos feitos por ele", disse Herlón Cavalcanti.




Tavares da Gaita ao lado de Antônio Carlos de Nóbrega — Foto: Biblioteca de Lídio Cavalcanti/Arquivo

Em 2002 e 2010 ele foi um dos homenageados do São João de Caruaru e também recebeu o colar do nos 150 anos do município, em 2007. Em 2003 gravou seu único disco, o "Samba de Boca". Em 2019 teve o seu nome em uma praça, inaugurada no bairro Santa Rosa. No museu Carlos Cleber, em São Caetano, é possível encontrar algumas das gaitas e instrumentos do músico. Tavares da Gaita morreu aos 84 anos, em 2009, com quadro de infecção generalizada, na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Municipal Casa de Saúde Bom Jesus, em Caruaru. Ele deixou a esposa, Elvira Maria Tavares da Silva, e a filha única, Maria José Tavares. *Sob supervisão de Hayale Guimarães, Joalline Nascimento e Lafaete Vaz








Tavares com Jefferson Gonçalves



<iframe src="https://anchor.fm/rdio-cordel3/embed/episodes/As-Sanfonas-de-Tavares-da-Gaita-T1---Ep-02-esb2jh/a-a4te9cu" height="102px" width="400px" frameborder="0" scrolling="no"></iframe>

https://anchor.fm/rdio-cordel3/episodes/As-Sanfonas-de-Tavares-da-Gaita-T1---Ep-02-esb2jh/a-a4te9cu


Sem comentários:

Enviar um comentário